Que motivos o levaram a ser candidato ao governo do  Maranhão?
Um motivo objetivo, que é a demanda social por renovação  da vida política do estado. Isso é um sentimento bastante nítido e se  ampara sobretudo num diagnóstico da realidade maranhense, do que o  estado é e do que ele pode ser. Hoje o Maranhão é conhecido  nacionalmente como o estado mais atrasado da Federação, do ponto de  vista dos indicadores sociais, sobretudo. Quando se fala de  analfabetismo se lembra do Maranhão porque o analfabetismo maranhense é o  dobro da média brasileira. Quando se fala em IDH se lembra do Maranhão  porque o IDH maranhense é o menor da federação. E assim sucessivamente:  mortalidade infantil, submoradias, qualidade da educação em todos os  níveis. O paradoxo é que isso não corresponde às potencialidades do  estado. Ao contrário, o Maranhão tem uma história reconhecida  nacionalmente como um estado de grande importância, inclusive  econômica.Temos condições naturais, uma localização geográfica  privilegiadíssima, no chamado meio norte brasileiro; não temos problemas  climáticos significativos ao contrário de grande parte do Nordeste, que  sofre com período de chuvas desfavorável; o Maranhão é um estado que  tem muita água, é cortado por rios diferentes, tem o segundo maior  litoral brasileiro – 640 km de litoral – fica a 2 graus da linha do  Equador, o que favorece, por exemplo, uma indústria aeroespacial. Tem um  complexo portuário de referência mundial pelas suas condições de  exploração, condições naturais. Tem três ferrovias implantadas, a  ferrovia Norte-Sul, a ferrovia Carajás, e a ferrovia São Luís–Teresina,  uma quarta projetada, que é a ferrovia Transnordestina..Quando você  confronta isso com o quadro social, nasce a demanda com a renovação da  política, porque é esse o diagnóstico que sustenta a candidatura.
Diante de todo esse cenário positivo que o senhor acaba de narrar,  por que o Maranhão está nessa situação?
Porque o modelo político que  se cristalizou não foi capaz de levar o Maranhão adiante. Nós tivemos um  momento em que havia uma movimentação pela superação do padrão  oligárquico de organização da vida política e esse movimento resultou na  vitória do então jovem deputado José Sarney, em 1965, para o governo do  estado. E a partir daí nasceu um novo ciclo, o ciclo que se anunciava  como capaz de levar o Maranhão adiante, ao encontro do seu verdadeiro  destino. O que aconteceu é que houve a ausência de alternância no poder.  A ausência de alternância no poder fez com que a vida política perdesse  qualidade e, portanto, a gestão pública também perdesse qualidade. A  missão que nós temos hoje é a missão republicana de gerar alternância no  poder, gerar, portanto, uma reorganização institucional, inclusive para  viabilizar a reorganização do estado em outros planos. Então, como as  condições infraestruturais, naturais, apontariam para o desenvolvimento,  a resposta só poderia estar na política.
O senhor diria que foi uma incompetência das  gestões ou foram gestões em causa própria?
Acho que houve a soma de  vários problemas. Acho que quando o poder se cristaliza, o poder se  eterniza, ele é uma usina de vícios e isso está em Aristóteles.
Está dizendo que o Maranhão é uma usina de vícios?
Que a política  maranhense esses anos todos se transformou em uma usina de vícios em  razão dessa cristalização, em razão da ausência da alternância de poder.  Quando o poder vira um poder totalitário, ele degenera, e é isso que  está acontecendo. Então houve a soma de tudo, houve patrimonialismo, no  sentido da falta de distinção entre o público e o privado e da  apropriação do público e da sua submissão em interesses privados,  denúncias graves de corrupção e houve, também nesse sentido gerencial,  incapacidade administrativa. Eu não consigo nem identificar qual o  problema predominante, esse é o próprio diagnóstico. E qual é a  resposta? A resposta só pode ser enfrentar a causa, enfrentar a raiz.
O senhor seria a alternância?
Não eu, propriamente. Há uma  geração de lideranças que não estão só na política, estão também no  mundo empresarial, estão no mundo dos movimentos sociais e estão no  próprio Judiciário, no mundo da magistratura. Há uma demanda social e  hoje a minha candidatura é a confluência dessa expectativa. Eu não tenho  nenhum tipo de messianismo, nem um tipo de salvacionismo, nem um tipo  de bonapartismo ou cezarismo, dizer “ah, eu serei o salvador do  Maranhão”, não tenho essa pretensão. Até porque não existe esse  personagem. Mas a candidatura é o caminho para que nós possamos ter o  ciclo novo realmente democrático no Maranhão.
O senhor diria que essa quebra do ciclo da família Sarney, que  domina a política do Maranhão, com o Jackson Lago eleito governador em  2006, foi já uma consequência de um voto mais consciente, ou resultado  de um racha na base do poder?
A soma das duas coisas. Há uma situação que é de crise do modelo que se  expressa inclusive na difiduldade do estabelecimento da chamada  hegemonia política, uma direção que seja aceita socialmente. Isso que  levou ao que poderia ser chamada classicamente de crise do vértice do  sistema. Houve uma fissura liderada pelo então governador José Reinaldo  Tavares, que pertencia ao grupo Sarney, e isso se conjugou com o  sentimento de mudança que se expressa a cada eleição. Foi essa soma que  levou à vitória do Jackson. Infelizmente não foi possível ao Jackson  levar às últimas consequências esse propósito, por uma série de fatores  históricos, fatores do próprio grupo que assumiu o governo com ele. O  certo é que essa experiência ficou inconclusa. Ficou o sentimento de  frustração na sociedade, inclusive que agora se recoloca. Uma parte  desistiu da mudança. Dizem: “olha, tentamos a mudança e deu errado”. E  eu sou taurino, sou persistente, sou obstinado.
Como está a sua base?
Hoje nós temos o apoio do PT e do PSB, além  do próprio PCdoB e muitas alianças sociais, movimentos, sindicatos,  direções sindicais, lideranças da igrejas, lideranças da juventude,  lideranças sociais de um modo geral. Temos um conjunto de forças  identificadas com o sentimento de mudança. Em relação ao Jackson, o que  eu observo agora, o modo como me conduzo em relação a ele, é de respeito  ao que ele representa. Então eu não posso dizer nada diferente do que  reconhecer que ele tem direito de ser candidato.
Ele vai sair candidato?
Ele está marcado por muitas incertezas,  neste momento.
Há a possibilidade de o PDT vir para a sua chapa?
Há  uma possibilidade, sim. O PDT é um partido que compõe conosco a ala  esquerda do governo Lula.
O PT decidiu apoiá-lo em detrimento do PMDB de Roseana Sarney, que  vai à reeleição, com diferença de apenas dois votos dos delegados. O  senhor acredita que o PT vai recuar?
Tenho certeza que não. Foi uma  decisão legítima, lá, ainda que com um placar apertado, ali, mas que por  trás dele há uma ampla maioria da militância do PT, da base social do  PT. Então os dois votos representam várias militâncias...Tem 80% do PT  hoje conosco. Não vou dizer que temos 100%, também, porque é falso.  Temos 80% do PT interessado, engajado, querendo participar da campanha e  da pré-campanha. Há muita motivação em relação a isso. Agora, acho que o  PT não recua, primeiro, nacionalmente, porque o PCdoB e o PT são os  aliados mais duradouros da vida política, da História brasileira. São  seis eleições presidenciais consecutivas, portanto, um casamento longo e  feliz do PT com o PCdoB. Então não vejo como, nacionalmente, se dizer  que o apoio do PT ao PCdoB no Maranhão contraria a tática nacional.
Qual vai ser a sua bandeira?
Primeiro, um sentimento de esperança  de que as coisas podem ser diferentes. A bandeira da mudança, a  bandeira que não é a bandeira da mudança oca, destituída de sentido. É  uma bandeira da mudança que se embasa, que se apoia numa base natural,  numa base real, que é a constatação daquele paradoxo maranhense que me  referi no início.É esse paradoxo que sustenta o discurso da mudança. E o  discurso da mudança, além de ser apoiado num diagnóstico real, ele tem  um rumo, tem um sentido, que é o sentido dado pelo governo Lula. Nós  queremos casar o Maranhão com o Brasil. Nós achamos que o Brasil, sob a  liderança do Lula, encontrou um caminho de inclusão social, um caminho  de um grande pacto, em defesa da nação, um pacto político bastante amplo  e plural, inclusive. E nós somos defensores desse pacto, não  questionamos a aliança nacional de modo nenhum. Pelo contrário, defendo a  aliança nacional.
O senhor acredita que o presidente Lula vai fazer campanha lá no  Maranhão, junto com Dilma, apoiando Roseana ou o senhor?
Em relação  especialmente ao presidente Lula, acho que isso vai depender de uma  série de fatores da política nacional. Acho que não será uma definição  tomada, segundo critérios específicos do Maranhão, até porque nesse  sentido não há especificidade na situação maranhense. A situação do  Maranhão é igual à situação do Piauí, para não ir muito longe. No Piauí  haverá duas correntes políticas, assim como na Bahia, assim como  provavelmente em Minas, assim como no Rio Grande do Sul, talvez no  Paraná, no mínimo em 10 estados. Então, nesse sentido o Maranhão não  estará sozinho. Então o que valer para os outros deve valer para o  Maranhão.
Qual a primeira e imediata medida que tomará caso seja eleito  governador?
Primeiro iria deixar claro para o conjunto da máquina  administrativa que ali havia um comando, havia uma direção política, com  compromissos bastante nítidos. O primeiro, da probidade, da honestidade  na aplicação do dinheiro público. O segundo, da prioridade às políticas  sociais. Essa diretriz ficará bem nítida na conduta do governador.  Depois eu irei chamar todos aqueles atores que são os responsáveis pela  riqueza do Maranhão. O Maranhão não tem uma única vocação econômica. O  Maranhão tem múltiplas vocações econômicas.Não são grandes projetos que  vão salvar o Maranhão. É o contrário, é exatamente a soma dessas  múltiplas vocações econômicas, agricultura familiar, a pesca, o  extrativismo, a presença do setor de comércio e serviços. Então nós  iremos envolver no projeto de desenvolvimento aqueles que  tradicionalmente são esquecidos e essa é a razão principal razão, ao meu  ver, do subdesenvolvimento do Maranhão. Eu diria que há uma atitude a  ser tomada. E a atitude, ou a postura, é a probidade, a prioridade ao  social, desenvolvimento inclusivo, desenvolvimento que leve em conta as  múltiplas vocações econômicas. 
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